Em um branco momentâneo,
Escrevo coisas que nunca li.
Talvez tenha visto em sonhos, em outdoors, no olhar de alguém,
Mas transcrevo em letras soltas, jogadas em um liquidificador.
Te imagino crua. Deitada entre travesseiros encharcados.
Nua em sua dor.
Não me vejo chegando em um cavalo branco pra salvar ninguém.
Estou sentada em uma lua branca, tomando uma com São Jorge.
Observando as pessoas lá embaixo a zombarem do invisível.
A contarem com a sorte.
A minha volta, um turbilhão de sensações insensíveis.
Como os segundos no relógio, batendo a cada meia-noite.
Toda hora é a virada.
Toda hora é a última.
Toda hora promete ser a primeira.
Mas nunca, nunca, nunca está sendo.
E eu penso em parar, mas não consigo.
Te imagino me imaginando, e rindo.
Sozinha, ecoando um desespero profundo e mudo.
Desço da lua, e caio em mim.
Empoeirada, um pouco rancorosa pelo abandono.
Muitas malas, pouco espaço.
Jogo fora tudo de novo.
E em um branco momentâneo.
Escrevo as coisas que nunca vivi.
Ainda.
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