quarta-feira, 30 de abril de 2008

CRÔNICA: La Belle de Jou,vas te faire encule!! (Com o perdão da palavra e do som)

Estava eu ontem, acomodada perfeitamente nos braços de Morfeu, quando uma música invadiu meu sonho que, até então estava indo muito bem. Era um forró que eu adoro (ou adorava). “La Belle de Jou".
No meu sonho eu estava em SP, fechando um grande negócio, cercada de gente bacana, quando de repente me transportei pra Dunas de Itaúnas, terra do forró, cheia de nativos (nada contra, porque são os que dançam melhor mesmo). Fiquei alguns segundos admirando a nova situação, a praia ao fundo, a catuaba na minha mão, começando a gostar, quando percebi que estava de salto alto, saia e toda emperiquitada, como se tivesse saído de uma reunião...em SP. Puts! Que coisa era aquela. Era igual a sonhar que você chega na aula de pijama, sem querer e fica todo mundo rindo de você.
Aí comecei a perceber que tinha alguma coisa de errado. A Música foi ficando mais forte,mais forte,até que percebi que a "De Jou" estava vindo da "réalité". De uma realidade extremamente barulhenta. Da Praça do Papa, minha vizinha mais ilustre.
Pronto, acordei.
Por um momento, ainda sonolenta, xinguei a minha irmã, coitada, achando que a música estava vindo do quarto dela. Não, era da Praça do Papa mesmo!
Mas o som, quando vem daquela praça, propaga de tal maneira! Parece que bate na Serra do Curral e vem direto na minha cachola atazanar as minhas noites de sono e trazer a insônia de presente.
Mas aquele carro que tocava essa música não era um carro! Era um carro fantasiado de Trio Elétrico, com 1000000000 wats de som! Era um absurdo! Até o Aécio, senão o próprio Papa, lá do Vaticano já devia estar acordado amaldiçoando (perdão Papa) o idiota que tocava aquela música, que de "Bella", não tinha mais nada, naquela altura (literalmente).
Pronto, lá vinha a insônia. Tentei ignorar, quando a minha irmã invadiu o meu quarto, parecendo um fantasma enrolado num edredom, reclamando da música. Pronto, com o susto daquela visão do além de travesseiro na mão, aí que eu nunca mais ia pegar no sono.
Liguei pra policia duas vezes, e nada. A gente já estava tendo pensamentos psicopatas, dignos da hora. A prisão era pouca coisa pra esse indivíduo sem noção. Bombas imaginárias saíam da minha varanda bem em cima daquele trio elétrico que achava estar em Salvador.
Desistimos, cada uma foi para o seu quarto, esperando a morte de “La Belle de Jou", que já tocava pela décima vez.
Aí é que eu tive a idéia de brincar do "Jogo do Contente" que aprendi com o livro da Pollyana (ELEANOR H. PORTER).
Poxa, aquilo devia ser uma serenata e eu nem estava tendo a boa vontade de ter um pouco de paciência pelos amantes.
Comecei a imaginar uma vizinha sonolenta em sua varanda, a ouvir a música de amor que a faz lembrar de seu amado. Ela estava encantada com aquele ato de romantismo a se propagar sem pudor pela Praça do Papa. Ela chegaria a sua janela, atenderia seu celular e conversaria com o amado ao som de "La Belle de Jou".
Em meio a esse pensamento romântico e altruísta, adormeci novamente.
É incrível o poder que a nossa mente tem de modificar as coisas externas. De mudar nosso entendimento das situações e, automaticamente, nossos sentimentos.
Tudo pode ser a "Bella", ou a "bête" (fera), dependendo da maneira que enxergamos os acontecimentos.
Lindo isso. Incrível.
O difícil é ignorar quando o mesmo pseudo-trio-elétrico para na Praça e liga a Dança do Créu a toda altura, às 4:30 da manhã. Isso acontece pelo menos uma vez por semana.
Aí, não há poder da mente que aguente, transformar o Créu em uma serenata romântica. Até mesmo porque ele tá mais pra uma ameaça terrorista.
Porque se for romântica, aí dessa vizinha! Eu descubro onde ela mora e contrato a Bartucada pra tocar embaixo da janela dela, todos os dias. Eu peço uma interveção Papal, eu monto um partido só pra fazer um acordo com o Aécio. Eu vou pessoalmente ao próximo posto policial, entro em uma viatura e persigo, eu mesma esse Filho da P... que acha que a Praça do Papa é o baile Funk mais badalado de Belo Horizonte.

Bem, no mais, altruísmo a parte, "La Belle de Jou" que não toque perto de mim tão cedo.

segunda-feira, 28 de abril de 2008

CRÔNICA DE CARNAVAL, ATRASADA.

Ih, choveu, amizade encolheu.

Nada como uma chuvinha do final da noite de domingo, você aconchegado na sua sala, coberto por edredons, em meio à pipoca e outras guloseimas Você pode estar sozinho, vendo aquele filme pela terceira vez, que a chuvinha te acomoda com promessas de um final feliz.
Mas, nessa época chuvosa em todo Brasil e principalmente aonde estou, na minha cidade Belo Horizonte, vejo a necessidade urgente de alguém avisar São Pedro que é verão. Não, pior, que é carnaval! Eu que ia para as praias capixabas, cancelei a viagem sem nova esperança de outro lugar que não seja o nordeste. E considerando o preço das passagens aéreas, já estou jogando minhas serpentinas pelo ralo. Literalmente. A vida parece se adaptar a um tempo denso, incerto, a mercê das gotas de chuva, que espantam os confetes e os planos do feriado.
Os ônibus cheiram a guarda-chuva embrulhado em sacola plástica com um leve toque de meia molhada. Afinal, os pedestres sabem o que estou falando, não há guarda chuva que proteja os pés.
Mesmo quem tem carro, não é possível que alguém saia de casa sem o guarda chuva, a não ser que vá de uma garagem para outra e não acredite em imprevistos.
A Lei de Murphi pode bem se fazer valer em um engarrafamento quando um bondoso senhor, ou senhora der aquela encostada na traseira do seu carro no meio de um temporal. Ai, meu amigo, minha amiga, vai você sair do carro, sem sombrinha, pra conversar com o infrator, numa chuvinha chata que chove, mas não molha. Não, não se pode sair sem sombrinha nesses dias. Aliás, em nenhum lugar do país, a não ser o Nordeste.
Isso me lembra um caso de chuva, da minha recente viagem a São Paulo. Descobri que esse tempo chuvoso, também é tempo de fazer e testar amizades.
Eu estava em São Paulo na semana passada. (sim,lá também chove e muito). Não dei ouvidos a minha prima, que iria me receber, quando me falou pra levar o meu guarda chuva mineiro para lá e nem ao mocinho que fica na porta do metro vendendo uma sombrinha por 5, duas por 10. Vai entender essa promoção.
Fui para a capital paulista para uma entrevista de um curso de atores e, no caminho, ainda na Augusta, conheci uma garota que também estava indo para o mesmo lugar. Uma dessas coincidências que parecem um GPS divino. Você está perdido, para pra perguntar a direção e a pessoa fala: “Me segue, também estou indo para lá”. É um encontro mágico onde todos seus anseios de “oncotô”, desaparecem como uma gota no oceano. Mas não vamos falar de gotas ainda. Foram sete quarteirões de muito papo, a luz do sol, risadas. É muito difícil eu me conectar rapidamente a amizades femininas, mas aquela garota tinha brilho. Durante esses quarteirões fizemos confidencias, planos para a noite, afinal, era sexta-feira. Trocamos telefones, compartilhamos gargalhadas quando uma jovem senhora “rebolante” tropeçou no próprio salto. Éramos melhores amigas, unidas ao acaso da Paulista, ao sol.
Chegamos ao local do curso, fizemos as entrevistas, passamos, comemoramos escandalosamente como duas amigas frenéticas e combinamos de almoçar juntas pra comemorar. E ao sairmos do local seco e coberto da entrevista, demos de cara com... A Chuva!
A famosa chuva anunciada pela minha prima e pelo mocinho do metro. Ela, como toda boa paulista que se preze, e sabe que, em São Paulo, em um mesmo dia, pode fazer calor, frio e chover, tira da bolsa um casaco e um guarda-chuva. E eu parada, olhando pra chuva, sentindo o “eu te avisei” da minha querida prima e do mocinho do metro atrás de mim, escuto a pergunta: “cadê seu guarda chuva”? Respondo: “Não tenho, mas a gente pode dividir o seu até a Paulista, lá eu compro”. Que inocência cega a minha.
Bem, pra resumir, nossa amizade linda terminou ali. Minha ex-melhor nova amiga me deu um olhar de recriminação, como quem diz “não posso ser amiga de uma pessoa que não tenha um guarda-chuva, em São Paulo, nessa época do ano e ainda queira dividir o meu guarda-chuva e arriscar molhar a minha escova de final de semana”. E lá foi ela, com um “desculpa”, mais na boca que nos olhos, balançando sua sombrinha florida.
E eu, pasma, chocada pelo fim de uma amizade tão bonita, por causa de um guarda-chuva, agradeci por termos ficado em horários diferentes no curso. Aquela ingrata. Fiquei a olhar a chuva cair, por duas horas e meia, e ainda peguei uns respingos enquanto subia os sete quarteirões até a paulista para comprar o guarda-chuva de cinco reais do mocinho do metro. E o melhor, ao me vender, o simpático vendedor soltou um: “Eu te avisei”.
Moral da história:
Uma amizade verdadeira não divide com você apenas o brilho do Sol, mas sim, o guarda-chuva na hora da chuva.
Moral da história 2: Nunca vá pra São Paulo sem uma bolsa grande onde caibam um casaco, uma sombrinha e uma meia extra.
Moral 3: sempre de ouvidos ao mocinho do metro e aos anfitriões de sua hospedagem em locais novos.