quarta-feira, 7 de maio de 2008

CRÔNICA: MASOQUISMO SOCIAL

Consideração.
A gente deveria considerar fazer tudo o que temos vontade. Desde que não façamos mal a ninguém.
Mas, tem a tal da "consideração" que, muitas vezes nos leva a fazer coisas que fazem mal a nós mesmos.
Tipo aqueles eventinhos chatos de família, que você, por consideração, não pode faltar.
Aniversário do sobrinho do neto da tia da sua mãe. Quem?
Às vezes, um simples convite que a consideração não te deixa negar.
Chá de bebê da prima de 3o grau do namorado.
Chá de panela da filha do sócio do seu pai.
Enfim, eventos medonhos que, enquanto você sorri automaticamente e responde "sim, claro" sua garganta está gritando "claro que eu vou, você não me deu escolha, eu vou dar de presente uma pinça pra sua sobrinha fazer o bigode".
Até que ponto devemos passar por cima das nossas vontades pra agradar os outros?
É claro que é muito bom quando fazemos o outro feliz. É um ato de desapego. Mas tudo tem limite.
Temos que ter coragem de dizer não pra consideração, quando esta nos causa desespero de estar em certa situação.
A verdade dói, mas a mentira dói mais na gente.
Então, se tiver que mentir pra você mesmo, para ir a algum evento chato, é melhor mentir pra quem te convida.
Calma, falando assim soa até desonesto. Mas é uma "mentirinha-caridosa" , quando você mente para não machucar a outra pessoa. Tipo assim:
"Vamos ao enterro do tio-avô da mulher do meu irmão"? Ao invés de você falar "Coméquié? Eu não o conheci vivo, pra que conhecer ele morto?" Você simplesmente responde "Eu gostaria muito de estar lá nesse momento pra consolar a família da mulher do seu irmão, mas tenho que levar a vovó no médico, já está marcado há meses".
Pronto, ninguém saiu ferido, a não ser a sua avó que ficou com a orelha pegando fogo.
Isso é uma dica, claro, mas eu, na maioria das vezes opto pelo: "Eu não conheci ele vivo..."
Depende do receptor da mensagem, claro. Pra dizer certas coisas, temos que ter amizade e intimidade, senão vira pancadaria moral.
Temos que ser solidários, com os outros e conosco. E maneirar na sinceridade, assim como não nos martirizar com compromissos torturantes que, muitas vezes nem surtem efeito. Só você está se importando. Às vezes, você é o único que se lembra de ter ido a uma festa inesquecivelmente chata. O noivo estava tão bêbado que te confundiu com a Tia Cotinha e te lascou um apertão no bumbum.
Concluindo, o nosso tempo é extremamente precioso e devemos, por isso, ser sinceros com nossas vontades e, na medida do possível, com os outros.
Caridade emocional tem seu lugar e faz muito bem pra alma. Altruísmo. Mas tem que ser feita com coração aberto e sem vontade de se tornar um avestruz e enfiar a cabeça no primeiro buraco. Aí não vale a pena pra ninguém.
Seja sincero, não abuse das "mentirinhas-caridosas", tenha um saco vazio e seja feliz!

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